A LSDiscos não é um selo, embora o ácido lisérgico seja usualmente distribuído sob essa apresentação. Na real, é um coletivo/laboratório de sonificções (escrita por sons) que envolve pessoas movidas pelo desejo de intervenção musical coletiva, de atacar sensorialmente os desprevenidos e os prevenidos. Para tanto, nós jogamos no liquidificador tudo que mexe com a cabeça: eletrônica experimental, pós-rock, collage, poesia sonora, nu musique concrete, afrofuturismo, digital hardcore, funk neurótico e action sound - como está escrito aí em cima, no cabeçalho. Por trás do nome "LSD", vc vai encontrar projetos díspares entre si, cada qual com um direcionamento estético distinto, mas unidos pela vontade de experimentar. Começou com "Os Jerssons" e "Bolor9", depois incorporou projetos paralelos de membros das duas bandas ("HDJ" e "Pós-Ravers") e de pessoas próximas que se interessaram pela ´trip´ e resolveram lançar álbuns ou se apresentar ao vivo junto - é o caso do "Xepah", do "Camões Let´s Go", do "Winchester" (responsáveis pelo antigo design do rizoma.net), do "DJVu" (tragicamente morto numa sauna gay, no ano passado) e até mesmo do "Cine Victoria" (que, aqui em São Paulo, lançou Nãomeuamor em co-edição com a LSDiscos). Os projetos que estão sendo trabalhados com mais ênfase, no momento, são "Stã-BrBrA" e "Carlos O Chacal". A proliferação de projetos e heterónimos é quase esquizofrênica entre nós, sendo extremamente incentivada. Uma característica dos nossos disquinhos é a total ausência de informações sobre integrantes, equipamentos etc. Alguns discos sequer trazem impresso o nome do projeto ou mesmo o selo "LSD". Ocultura, saca?
Nós fazemos questão de manter a infra num nível lo-tek, por inúmeras razões: não acreditamos em messianismo tecnológico, a grana é curta e os desafios que os equipamentos mais lo-tek propõem são bem excitantes. Fazer som com tecnologias ultrapassadas ou descartadas é uma coisa que também nos fascina. Acho que os rituais que envolvem as gravações são mais importantes para os resultados finais do que a metodologia. Nós nos encontramos aqui em casa (no centro velho de São Paulo), trocamos muitas idéias sobre discos, livros e pessoas que andam fazendo a cabeça no momento, abrimos uma "roda de loucura", chapando até os miolos se liqüefazerem, e só depois disso tudo é que estamos prontos para começar os trabalhos.
Alguns escrevem com palavras; outros com sons - o que é o nosso caso. "Experimentar o experimental" é sempre a nossa bússola. Já experimentamos tanto, mas tanto, que é possível afirmar que fazemos "Música Experimentada". Outra coisa importante para nós é a improvisação. Praticamente tudo que gravamos é improvisado - ou seja: composto, tocado e gravado ao mesmo tempo, o equivalente, em música, ao que os surrealistas chamavam de ´escrita automática´. É uma arma para manter a espontaneidade e, acima de tudo, a relação de prazer com a música. Sem falar que é um puta desafio fazer música improvisacional. E improvisar em música eletrônica é algo particularmente mais complexo, e, obviamente, mais sedutor. Improvisar sempre foi uma piração para nós; dominar a linguagem da improvisação sempre nos pareceu a fonte para a liberação das energias mais intensas e inconscientes com que a música pode lidar. Nem o som que sai desse laboratório nem os efeitos que ele causa são premeditados, o que faz com que a reação do ouvinte seja sempre uma surpresa: para ele e para nós.
TESTE DO ESTILHAÇO
Genesis P Orridge
Personagem bizarríssima do cenário musical inglês (Throbbing Gristle; Psychic TV), Genesis P Orridge empurra o procedimento do "cut-up" até os abismos da prática Magicka (bom crowleyano e decadente que é) e TotAlquímica (transmutando seu próprio corpo em andrógino). O sampler, aqui tratado como "estilhaço" (termo muito mais virulento e de grande sugestão neuropolítica), é o instrumento por excelência para detonar estados de consciência alterados e a arma perfeita para a liber-ação.
______
Pode-se dizer que samplear, jogar em loop e re-montar (tanto materiais encontrados como sons de lugares específicos selecionados pela precisão de relevância para as implicações da mensagem de uma peça de música ou uma exploração transmídia) é um fenômeno TotAlquímico e mesmo Magicko. Não importa quão curto ou aparentemente irreconhecível seja um sampler para a percepção de TEMPO linear; ele inevitavelmente irá conter dentro de si (e acessível por si) a soma total de absolutamente tudo que seu contexto original representava, comunicava ou tocava de qualquer forma. E, sobretudo, também deverá incluir implicitamente a soma total de todos os indivíduos ligados de qualquer forma à introdução e à construção no interior da cultura original (hospedeira), e qualquer cultura subsequente (mutada ou projetada e sob qualquer modo, meio e forma) estabelece contato com o "eterno" (nas zonas de tempo do passado, presente, futuro e quantum).
"Duas partículas quaisquer que tenham um dia estado em contato continuarão a agir como se elas estivessem informacionalmente conectadas, independente de sua separação no tempo e espaço" (Teorema de Bell)
Se arrancarmos um pedaço de um holograma e depois o espalharmos, per-c/ser-beremos que em cada fragmento (não importa se pequeno, grande ou irregular) é visível todo o holograma. Isto é um fenômeno incrivelmente significativo. Se pegarmos, por exemplo, um estilhaço de John Lennon, este estilhaço irá conter, dentro de si e de forma bastante real, tudo o que John Lennon tenha experienciado; tudo que John Lennon tenha dito, composto, escrito, desenhado, expressado; todos os que já o conheceram; a soma total de todas essas e quaisquer outras interações; todos aqueles que algum dia o ouviram ou leram ou o viram ou pensaram a seu respeito ou reagiram a John Lennon ou qualquer outra coisa remotamente conectada a ele; todas as combinações passadas, presentes e/ou futuras de parte ou de tudo acima escrito.
Toda essa informação enciclopédica - bem como a viagem pelo tempo a ela conectada pela memória e pela experiência prévia - segue esse "estilhaço" da memória, pelo que deveríamos estar bem conscientes de que ele carrega em si uma seqüência infinita de conexões e progressões pelo tempo e espaço - tão longe quanto se desejar. Agora podemos todos manter o poder de montar - via "estilhaços" - feixes de uma qualquer era. Tais feixes são, basicamente, lembranças (1). Na verdade, o que eles estão fazendo é contornar os usuais filtros da realidade consensual (já que esses últimos têm lugar numa forma aceitável como tv, filmes, músicas, palavras), bem como viajar diretamente para seções "a-históricas" de sua mente, detonando toda e qualquer reverberação consciente ou inconsciente relacionada com aquele estilhaço-hieróglifo.
DESSA FORMA TEMOS LIBERDADE INFINITA PARA ESCOLHER E MONTAR, E TUDO QUE MONTAMOS É UM RETRATO DO QUE CONHECEMOS OU DO QUE VISUALIZAMOS SER. O ESTILHAÇAMENTO FEITO COM HABILIDADE PODE GERAR MANIFESTAÇÃO: ESTE É O "TESTE DO ESTILHAÇO".
Escolhemos estilhaços, consciente e inconscientemente, para representar nossos próprios padrões miméticos (DNA), nossos próprios aspirações e marcas culturais; invocamos, num sentido verdadeiramente Magicko, manifestações, talvez até resultados, a fim de confundir e dar curto-circuito em nossas percepções e na segurança do todo.
Qualquer coisa, sob qualquer meio imaginável, de qualquer cultura, que esteja de algum jeito gravada, e que possa ser de qualquer forma tocada novamente, encontra-se acessível e infinitamente maleável e utilizável por qualquer artista. Tudo está disponível. Tudo é livre. Tudo é permitido. MONTAGEM é a linguagem invisível de nosso TEMPO. Escolhas infinitas da realidade são o presente do software para nossas crianças.
NOTA:
(1) Impossível traduzir o termo original, já que traz em seu interior outras palavras e idéias: RE ("fazer de novo", como em "remodelar"), MIND (mente), RE-MIND ("re-mentar" ou "refazer a mente") e REMIND ("relembrar"). Este é só um exemplo das idiossincrasias que percorrem todos seus textos ("thee" em vez de "the"; "ov" em vez de "of"; etc). Tudo muito ao gosto de um certo Genesis P Orridge ("porridge" = aveia; "origin" = origem). [Nota do Trad.]
Escrito por Mário Bortolotto 1__#$!@%!#__hr_g.gif ¨
30/08/2009
Ontem comentava com alguns amigos:
"Eu tenho um amigo que é tão intelectual que assiste filme pornô até o final".
Kitagawa então mandou essa:
"É que ele não quer ter uma idéia errada do filme".
Nós fazemos questão de manter a infra num nível lo-tek, por inúmeras razões: não acreditamos em messianismo tecnológico, a grana é curta e os desafios que os equipamentos mais lo-tek propõem são bem excitantes. Fazer som com tecnologias ultrapassadas ou descartadas é uma coisa que também nos fascina. Acho que os rituais que envolvem as gravações são mais importantes para os resultados finais do que a metodologia. Nós nos encontramos aqui em casa (no centro velho de São Paulo), trocamos muitas idéias sobre discos, livros e pessoas que andam fazendo a cabeça no momento, abrimos uma "roda de loucura", chapando até os miolos se liqüefazerem, e só depois disso tudo é que estamos prontos para começar os trabalhos.
Alguns escrevem com palavras; outros com sons - o que é o nosso caso. "Experimentar o experimental" é sempre a nossa bússola. Já experimentamos tanto, mas tanto, que é possível afirmar que fazemos "Música Experimentada". Outra coisa importante para nós é a improvisação. Praticamente tudo que gravamos é improvisado - ou seja: composto, tocado e gravado ao mesmo tempo, o equivalente, em música, ao que os surrealistas chamavam de ´escrita automática´. É uma arma para manter a espontaneidade e, acima de tudo, a relação de prazer com a música. Sem falar que é um puta desafio fazer música improvisacional. E improvisar em música eletrônica é algo particularmente mais complexo, e, obviamente, mais sedutor. Improvisar sempre foi uma piração para nós; dominar a linguagem da improvisação sempre nos pareceu a fonte para a liberação das energias mais intensas e inconscientes com que a música pode lidar. Nem o som que sai desse laboratório nem os efeitos que ele causa são premeditados, o que faz com que a reação do ouvinte seja sempre uma surpresa: para ele e para nós.
TESTE DO ESTILHAÇO
Genesis P Orridge
Personagem bizarríssima do cenário musical inglês (Throbbing Gristle; Psychic TV), Genesis P Orridge empurra o procedimento do "cut-up" até os abismos da prática Magicka (bom crowleyano e decadente que é) e TotAlquímica (transmutando seu próprio corpo em andrógino). O sampler, aqui tratado como "estilhaço" (termo muito mais virulento e de grande sugestão neuropolítica), é o instrumento por excelência para detonar estados de consciência alterados e a arma perfeita para a liber-ação.
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Pode-se dizer que samplear, jogar em loop e re-montar (tanto materiais encontrados como sons de lugares específicos selecionados pela precisão de relevância para as implicações da mensagem de uma peça de música ou uma exploração transmídia) é um fenômeno TotAlquímico e mesmo Magicko. Não importa quão curto ou aparentemente irreconhecível seja um sampler para a percepção de TEMPO linear; ele inevitavelmente irá conter dentro de si (e acessível por si) a soma total de absolutamente tudo que seu contexto original representava, comunicava ou tocava de qualquer forma. E, sobretudo, também deverá incluir implicitamente a soma total de todos os indivíduos ligados de qualquer forma à introdução e à construção no interior da cultura original (hospedeira), e qualquer cultura subsequente (mutada ou projetada e sob qualquer modo, meio e forma) estabelece contato com o "eterno" (nas zonas de tempo do passado, presente, futuro e quantum).
"Duas partículas quaisquer que tenham um dia estado em contato continuarão a agir como se elas estivessem informacionalmente conectadas, independente de sua separação no tempo e espaço" (Teorema de Bell)
Se arrancarmos um pedaço de um holograma e depois o espalharmos, per-c/ser-beremos que em cada fragmento (não importa se pequeno, grande ou irregular) é visível todo o holograma. Isto é um fenômeno incrivelmente significativo. Se pegarmos, por exemplo, um estilhaço de John Lennon, este estilhaço irá conter, dentro de si e de forma bastante real, tudo o que John Lennon tenha experienciado; tudo que John Lennon tenha dito, composto, escrito, desenhado, expressado; todos os que já o conheceram; a soma total de todas essas e quaisquer outras interações; todos aqueles que algum dia o ouviram ou leram ou o viram ou pensaram a seu respeito ou reagiram a John Lennon ou qualquer outra coisa remotamente conectada a ele; todas as combinações passadas, presentes e/ou futuras de parte ou de tudo acima escrito.
Toda essa informação enciclopédica - bem como a viagem pelo tempo a ela conectada pela memória e pela experiência prévia - segue esse "estilhaço" da memória, pelo que deveríamos estar bem conscientes de que ele carrega em si uma seqüência infinita de conexões e progressões pelo tempo e espaço - tão longe quanto se desejar. Agora podemos todos manter o poder de montar - via "estilhaços" - feixes de uma qualquer era. Tais feixes são, basicamente, lembranças (1). Na verdade, o que eles estão fazendo é contornar os usuais filtros da realidade consensual (já que esses últimos têm lugar numa forma aceitável como tv, filmes, músicas, palavras), bem como viajar diretamente para seções "a-históricas" de sua mente, detonando toda e qualquer reverberação consciente ou inconsciente relacionada com aquele estilhaço-hieróglifo.
DESSA FORMA TEMOS LIBERDADE INFINITA PARA ESCOLHER E MONTAR, E TUDO QUE MONTAMOS É UM RETRATO DO QUE CONHECEMOS OU DO QUE VISUALIZAMOS SER. O ESTILHAÇAMENTO FEITO COM HABILIDADE PODE GERAR MANIFESTAÇÃO: ESTE É O "TESTE DO ESTILHAÇO".
Escolhemos estilhaços, consciente e inconscientemente, para representar nossos próprios padrões miméticos (DNA), nossos próprios aspirações e marcas culturais; invocamos, num sentido verdadeiramente Magicko, manifestações, talvez até resultados, a fim de confundir e dar curto-circuito em nossas percepções e na segurança do todo.
Qualquer coisa, sob qualquer meio imaginável, de qualquer cultura, que esteja de algum jeito gravada, e que possa ser de qualquer forma tocada novamente, encontra-se acessível e infinitamente maleável e utilizável por qualquer artista. Tudo está disponível. Tudo é livre. Tudo é permitido. MONTAGEM é a linguagem invisível de nosso TEMPO. Escolhas infinitas da realidade são o presente do software para nossas crianças.
NOTA:
(1) Impossível traduzir o termo original, já que traz em seu interior outras palavras e idéias: RE ("fazer de novo", como em "remodelar"), MIND (mente), RE-MIND ("re-mentar" ou "refazer a mente") e REMIND ("relembrar"). Este é só um exemplo das idiossincrasias que percorrem todos seus textos ("thee" em vez de "the"; "ov" em vez de "of"; etc). Tudo muito ao gosto de um certo Genesis P Orridge ("porridge" = aveia; "origin" = origem). [Nota do Trad.]
Escrito por Mário Bortolotto 1__#$!@%!#__hr_g.gif ¨
30/08/2009
Ontem comentava com alguns amigos:
"Eu tenho um amigo que é tão intelectual que assiste filme pornô até o final".
Kitagawa então mandou essa:
"É que ele não quer ter uma idéia errada do filme".
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