quarta-feira, 17 de março de 2010

CAMBRALHA!

== '''CAMBRALHA!''' ==


'''Resto de tudo indeferido'''

Depois do almoço me deito no quarto todo desenhado, pichado, pintado, liberdade desconcertada, paredes por todo lado, maravilhosa cela herdada, cores, luzes do escuro que denunciam meu pequeno espaço. Casal dançando dentro do quadro roubado do Parque, princípio, lugar onde minha professora me levava pra ver aquele lago.

Sonho... No começo a palavra, CAMBRALHA! Registro no muro sem medo do futuro, volto a dormir. Oníricos conteúdos dançantes, formas, mundos, línguas estranhas, castelos, cabelo, cabelos, calabouços durante anos e anos.

Volto à sala de visitas, aparelhos magnéticos, resquícios do comunismo, lá fora o capitalismo, aqui dentro o anarquismo. Eletrodomésticos, tudo ladrilhado lado a lado, tratamento intensivo, eletro convulso terapia, psicocirurgia, neurastenia, mania.

Liberto e preso estamos ao mesmo tempo, o significado do rizoma não traduz a lógica da humanidade doente, Deus, outra palavra inventada cheia de significados arranjados, somente energia unificada perdidamente dilacerada traduz a fascinante lógica do nada.

De cabeça inverto o roteiro, estranho, apenas meus amigos primitivos me respeitam, com eles sigo rumo ao mosteiro, a vida é o caminho inteiro, sigo pelo meio porque sou os limites dos extremos em mim mesmo.

Arte, última das religiões, chance última do vir a ser, janela pela qual sinto a pulsão universo.

A palavra lentamente doma o significado, mordo o rabo, junto a raiz do Jequitibá durmo entrelaçado, escura cela destroçada, enterrado renasço morto calado, ressurreição pelo ralo, emerjo na boca do diabo, ao lado daquela cachoeira que jorra a água prateada do pecado.

Cambralha, cidade perdida nas lembranças da humanidade, liberdade, prisão pela qual emerge as mentiras e as verdades, todas as raças indefinidas somadas à luz das possibilidades, sentido metafórico de tudo esquecido, vivo, na memória das Artes.

domingo, 7 de março de 2010

Fragmento galáxial

Capítulo 03


As memórias afetivas populares resistem, as batalhas perdidas reafirmam a causa, a guerra está por revelar outras esquinas, Monan respira, a Guanabara urge em plenitude no alto do azul, na areia branca, nas matas e pedreiras de Xangô-Agodô, o Justiceiro anunciador.

Lá em cima, na quadra do baile, uma placa do Brizola me fez lembrar do papai. Enquanto a batalha se trava no alto, em baixo o jogo não para, o ser humano é escravo do mesmo, da culpa, da doença, do medo do medo e, por fim, da morte. Desvio quando impossível, quando não, dou meu jeito. De repente as coisas deram certo, agora bebo bebida cara, pelo menos até amanhã... Aí então uma sardinha, uma dose de cachaça e carnaval... até o dia raia, depois é outro casamento.